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Tão simples quanto a vida pode ser

“A maternidade não é garantia de nada”. A frase é dita por quem desde cedo percebeu que ser mãe era apenas uma das formas de se realizar como mulher. Transparente como poucos, a nutricionista pernambucana Mirella Freire é mãe de duas filhas, Yolanda, de 12 anos, e Elizabeth, de 9. 

Autêntica, tomou gosto pelas redes sociais, embora confesse manter uma distância segura da exposição da internet. Já são mais de 55 mil seguidores em seu perfil no Instagram. Mirella também está nas livrarias. Em “É Mais Simples Do Que Parece”, compartilha dicas sobre nutrição e cuidados com a alimentação. Quase um lema de vida, o título do livro se encaixa perfeitamente na maneira leve e sem tantas cobranças e culpas com que a nutricionista exerce sua maternidade. Um jeito de ser mãe que é tão simples quanto a vida pode ser. 

 

Mirella, você é de Pernambuco, né? Como você veio parar aqui em Fortaleza? Foi pelo casamento?

Sim. Eu sou de Recife e meu marido é daqui. A gente se conheceu em Pipa, no réveillon, e, na época, eu já era formada, já tinha minha carreira começando lá. Namoramos à distância e depois que casei vim pra Fortaleza. Mas nunca passou pela minha cabeça abandonar minha profissão, sabe?

 

Dá pra perceber que a sua profissão é um fator muito importante na sua realização como mulher. Como é que a maternidade atravessa esse objetivo profissional? 

Eu nunca fui aquele perfil de mulher que sonhava em ser mãe, que tinha a maternidade como uma meta. Para mim, a maternidade era secundária. Eu era mais focada na minha carreira. Só vim despertar mesmo pra maternidade com uns 30 anos. Acho que foi coisa do relógio biológico mesmo, que avisa à mulher que ela não tem a vida inteira para ser mãe. E foi aí, quando eu quis ser mãe, que o caldo entornou pro meu lado, porque eu tive muita dificuldade para engravidar da minha primeira filha. Cheguei a fazer tratamento, inclusive fora daqui, e depois de três tentativas acabei engravidando de forma natural. Foi uma gravidez de risco, a partir do sexto mês tive um problema na placenta, precisei ficar de repouso absoluto e minha filha nasceu prematura. Eu falo que foi difícil pra mim antes, durante e depois. 

 

E com uma gravidez tão difícil, o que te fez partir para a segunda filha? 

Da Elizabeth, engravidei de forma natural e foi bem tranquilo, o extremo oposto. Eu poderia ter tido o mesmo problema que eu tive na primeira, mas eu quis correr esse risco, porque algo me dizia que seria diferente. Foi até estranho para mim, ser tão tranquilo. 

 

E como você se enxerga como mãe?

É o papel mais desafiador que um ser humano pode ter na vida. Eu não vejo a maternidade com muito glamour, sabe? Eu escutava muito que eu devia ter o terceiro ou o quarto, porque eu tinha condições, como se fossem suas condições financeiras que criassem seu filho e não você, se desdobrando em mil pra cuidar e educar outro ser humano. Eu conto com uma rede de apoio incrível e sempre soube do meu papel como mãe. Nunca quis ser aquela mãe psicóloga, mãe professora… Eu falo sempre que ser mãe já me basta. No mais, eu sempre trabalhei, eu nunca abri mão da minha profissão, de estudar, de estar sempre atualizada e acho que isso ajuda a enxergar a maternidade como uma parte da realização como mulher. Eu nunca depositei na maternidade a minha única forma de me realizar como mulher.

O seu livro chama “É Mais Simples Do Que Parece”. Por que esse título?

Foi sugestão de uma cliente. Ela já tinha ido a vários nutricionistas e nada, e comigo estava tendo um resultado muito positivo. Nesse processo de mudança, ela sugeriu que eu escrevesse um livro e com esse título, porque ela realmente percebeu que é mais simples do que parece. Eu já tinha vontade de escrever, pra deixar registrado. Sempre acreditei muito na nutrição. Tenho 20 anos de formada e na minha época a nutrição ainda não era moda, ainda não era tão valorizada. Nesses 20 anos eu vi e vivi muitas coisas com os pacientes e o atendimento no consultório é limitado, né? E o livro vem para compartilhar e inspirar as pessoas para além do consultório.

 

E as redes sociais também cruzam sua trajetória profissional com esse objetivo de alcançar mais pessoas? 

Então, nunca fui muito atenta às redes sociais. Nunca tive Orkut, nunca tive Facebook. Quem fez meu Instagram foi a Paulinha [Sampaio], minha cunhada. Entrei de forma muito orgânica e fui pegando o jeito. Confesso, que ultimamente já não tenho mais a mesma vontade. O negócio tá muito tóxico. Hoje eu busco um equilíbrio entre não ter um perfil tão frio e também não deixar aquilo me consumir e tomar meu tempo e minha energia. Achar esse equilíbrio é um desafio. As pessoas estão muito à flor da pele.

 

Como você diz, as pessoas estão à flor da pele. Como você lida com as críticas, com as polêmicas?

Eu não sou uma pessoa de estar expondo muito minha vida pessoal. É realmente a questão profissional e também me coloco, coloco a minha personalidade. Como eu falo, com os haters, não gasto mais meu botox, meu colágeno. Eu bloqueio. Já fui de bater boca, mas hoje não sou mais assim não. Vejo até como uma forma de observar e aprender, sabe? Acho que a gente aprende muito, tanto com os nossos erros, quanto com os dos outros.

E nesse mundo de gente tão à flor da pele, quais são os teus medos como mãe?

O mundo tá aí. A gente precisa estar muito perto, seja filho ou filha. Essa geração que tá com o tablet na mão tem acesso a tudo que você possa imaginar. Quando seu filho chega pra você com uma pergunta, uma descoberta, ele já tem a resposta. Eles vão lhe testar pra ver se você é uma fonte segura ou não. Eu sou muito a favor da verdade. Eu tento adequar a linguagem, mas eu não minto para elas. Crio minha filhas de uma forma muito honesta. Sou muito autêntica. Não tem muita regra. O que quero é que elas sejam livres. 

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